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30 de dezembro de 2010

Debate (parte II)

Há alguns meses eu tive a feliz (ou infeliz? hehe) idéia de escrever negativamente sobre o texto "Pequenas empresas, grandes negócios: a fé e as performances profissionais" do Flávio Cavalcanti (ver abaixo) e me surpreerdi pelo o mesmo ter sido lido e posteriormente debatido com o próprio autor, obrigado Flávio. Não quero que esse debate seja por vaidade, uma vez que amadureci algumas idéias desde que entrei no mestrado, e confesso que escrevi coisas que talvez não escreveria hoje, mas tudo é um processo de aprendizagem.


Apesar de achar que cometi realmente erros quando critiquei a primeira vez seu artigo, no geral ainda não concordo com ele, pelas razão a seguir:

Primeiramente você deixa claro que fé não está relacionada com religiosidade. Você escreve: "entendo que alguém que crê na existência de algo maior, tem a sensação de conforto no processo profissional, busca algo além do mundano". Bom, quem lê de primeira essa afirmação aposto que acredita que tem tudo a ver com Deus e religiosidade, mas como você diz que não tem, suponho que esse "algo maior" seja um projeto, um propósito, etc.

Na minha opinião, o que menos eu concordo no seu texto e em vários outros com assuntos correlatos é a questão da GENERALIZAÇÃO. Na sua resposta e no seu texto original você coloca a questão dos funcionários fiéis (os que tem fé), no qual os mesmos obedecem regras e princípios sem questionamentos (e o senhor complementa que na figura de pesquisador, não acontece contigo).

Na verdade esse é meu principal questionamento, e você, ao longo das sus respostas, fala que eu interpreto mal o seu texto, e me propõe uma releitura. Exemplo: quando eu escrevi sobre a "contratação de um arquiteto pela sua fé", ou quando falo que o funcionário sem fé é um "desordeiro-insubordinável"; eu sei que você em nenhum momento disse isso no texto original, mas fez parecer ao leitores (pelo menos para mim) que o contrário era a verdade, ou seja, apresentou que ao se contratar um profissional deve-se SEMPRE levar consideração a sua fé; ou que os colaboradores sem fé, são os ÚNICOS que obedecem as regras e processos de uma empresa.

Você chama minha atenção sobre a Administração não ser científica e não poder ser provada, e deixa transparecer que eu acredito nisso: tudo que é científico PRECISA ser provado, como matemática. Mas é claro que eu sei que nem todo conhecimento dito "científico" precisa ser provado com fórmulas matemáticas. Sabemos que existem princípios, teorias científicas, baseadas em evidências, que não são enquadradas em modelos numéricos, mas recebem a titulação de realidade científica não falseada até o momento. Um exemplo é a Teoria da Evolução, e você está errado quando diz "comprovadamente equivocada" (não vou entrar no mérito dessa discussão, mas não acreditar por suas convicções pessoais na seleção natural é uma coisa, mas dizer que é comprovadamente equivocada é outra bem diferente: me diga autores que afirmam isso que eu te digo outros tantos que falam ao contrário, ou seja, estudiosos se divergem sim, mas a teoria da evolução ainda sustenta evidências científicas até hoje que sustentam sua verdade e realidade sobre a vida).

Outra grande discordância é você querer correlacionar as atividades das empresas no último trimestre com a religião dos seus proprietários. E esse ponto não só eu mas alguns dos comentaristas do texto no site administradores.com também discordaram. Primeiro: no começo você não disse que fé não tinha nada a ver com religião? Realmente não entendo. Posso fazer uma contribuição que não fiz no primeiro texto? Muito mais relevante que tentar encontrar correlação dessa variável (religiosidade dos proprietários), sugiro ler o trabalho de Chistensen sobre modelos de liderança para tipos diferentes de empresas caso ainda não tenha lido. Muito mais importante em saber se o proprietário tem ou não religião, é saber sobre quando um líder precisa ser carismático ou autoritário por exemplo (sim as vezes é preciso, discordando de alguns textos lidos no curso de Administração como "Líder Servidor" por exemplo, que prega a liderança apenas servidora, e somente essa dá certo, GENERALIZAÇÃO novamente). Muito legal saber, baseado em evidências, que modelos de liderança sugerem que determinadas empresas otimizem suas chances de sucesso.

Bom é isso, no geral esses são os dois principais ataques ao seu texto: generalização e correlacionar algo que não existia. Mas ponho a mão à palmatória quando você apresenta a importância do subjetivo, do lúdico, do feeling, da intuição, das pessoas, etc no processo gerencial, confesso que realmente esse seja o único diferencial potenciador do sucesso empresarial. E realmente isso não tem fórmula matemática, não é receita de bolo, mas felizmente temos publicações relevantes não apenas baseadas em crenças ou realidades administrativas pessoais, mas estudos sistemáticos baseados em evidências gerenciais (vide o estudo acima sobre liderança).

Um abraço, e obrigado mais um vez!

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