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10 de fevereiro de 2011

Comportamentos inatos (ou não tão inatos assim)


Motivado pelo reprise de "O Clone", estou terminando o livro "Genoma" do autor Matt Ridley. Um livro antigo (10 anos), mas com uma abordagem super interessante sobre o projeto do mapeamento genético (assunto que bombava na época). Entre várias discussões, o livro apresenta característica técnicas (biológicas) do funcionamento dos cromossomos, DNA, genes, e todos assuntos envolvidos como proteínas, enzimas, mutações, etc.
Mas o mais interessante é o aspecto filosófico que a obra nos fornece com relação a vida, a ciência, e como nós as compreendemos.


Talvez o que mais me intrigou no texto é referente a nova abordagem que se abre com a descoberta das estruturas e funções genéticas: a ciência social do século XX buscava entender os meios pelos quais nossos comportamentos são influenciados pelo ambiente (é fácil verificar isso, por exemplo nas abordagens educacionais); hoje o que se observa é uma mudança gradual partindo do lado oposto: identificar o quanto os meios ambientais são afetados pelas nossas características inatas.

Afim de combater o determinismo ambiental e defender as características com que as pessoas já nascem, o livro cita algumas refutações:

1ª) A derrocada da teoria freudiana: isso ocorre, segundo o livro, quando houve o relato de uma paciente que se curou em 3 semanas tomando Prozac que em 20 anos de terapia freudiana; especula-se que a mesma entrou com uma ação na justiça contra seu terapeuta. Aliado a este fato, o autor do livro mostra ainda um erro de interpretação freudiana com relação a causa da homosexualidade masculina. Na visão de Freud, um garoto tem propensão em ser homosexual quando há um distanciamento paterno e uma super proteção materna (fatores ambientais); o autor rebate que não, na verdade, devido ao garoto desde cedo apresentar características afeminadas (fatores inatos), o pai se afasta e mãe, como forma de compensação, lhe dedica mais atenção. Há um livro muito sério, publicado na França, que acusa a Sigmund Freud de mentiroso e compara a capacidade de cura da psicanálise freudiana como um tratamento homeopático*.

2ª) A derrocada do marxismo, com a  queda do Muro de Berlim. O ambiente não exerceria o que a teoria propunha: a subserviência ao estado todo poderoso não era possível.

3ª) A derrocada do behaviorismo com a experiência em Wisconsin. Nela os fatores ambientais não foram determinantes ao comportamento de filhotes de macacos órfãos. A experiência consistia em condicionar o comportamento da amamentação dos filhotes através de um arame e outro objetivo que saia o leite. Os macacos órfãos não "aprenderam" tal comportamento, o que levaram a crer que o aconchego materno é um comportamento inato.

4ª) A derrocada da teoria que a linguagem é puramente cultural, ou seja, totalmente influenciada pelo meio em que se vive. Ao contrário, o que pesquisas recentes comprovaram foi que o comportamento da linguagem, ou melhor dizendo, a estrutura básica da compreensão linguística, é uma característica inata, já nascemos sabendo tal estrutura, não importa de qual raça ou região você veio.

Na realidade, uma boa parte do livro o autor tenta nos mostrar esse "outro lado da moeda" com relação aos nossos comportamentos, que nem tudo é influenciado pelo ambiente, grande parte das vezes você já nasce assim e não tem poder de alterar nada (assim como doenças genéticas), o que está escrita nos genes, é a previsão (certa) do seu futuro. Mas é claro que não se resume apenas a isso, ouso arriscar que nos dias de hoje, 10 anos depois que o livro foi lançado, ainda não temos uma compreensão certa e definitiva sobre os genes e a sua influência, o próprio autor declara o quão perigoso é catalogar um "gene de alguma coisa". Numa segunda parte do livro, a obra caminha mais para uma interação da influência genética com a influência do ambiente. Nas palavras do autor: "o genoma é tão complicado e indeterminado quanto a vida comum, pois ele nada mais é que a vida comum".

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*"Le Crépuscule d'une idole, l'affabulation freudienne" (O Crepúsculo de um Ídolo, a Fábula Freudiana) - de Michel Onfray.

1 comentário:

  1. Muito bacana o blog, Carlão! A visão de um administrador sobre vários aspectos do mundo. É bacana para estudantes de adm lerem. Vou indicar! Leia o meu blog quando puder: www.blogdolider.wordpress.com

    abraço!

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