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27 de março de 2012

Agora eu me lembro...

Tive o prazer de terminar de ler “A Arte e a Ciência de Memorizar Tudo” de Joshua Foer. Basicamente a história narra, em primeira pessoa, a condição do autor de jornalista que cobriu um Campeonato Mundial de Memória, para um Campeão Nacional (EUA) da arte de memorizar! Todo esse feito dentro de um período de 1 ano.

O livro é um bálsamo de informações sobre memória. Para quem está acostumado a ver esses tipos de assuntos em classificações de auto-ajuda, irá ter uma agradável surpresa: o autor lança mão de conceitos científicos, levantamento de estudos e pesquisas sérias do tema, que envolvem a Psicologia, Neurociência etc; tudo a respeito do cérebro e a relação com a memória.


Parece uma coisa que não nos preocupamos muito, mas como anda sua memória? Eu me lembro de quando mais jovem (parece papo de idoso), eu saber o número dos telefones de várias pessoas na cabeça, hoje seu o meu e da minha namorada apenas (e somente seu celular, não me pergunte o da casa). Vivemos num mundo onde a memória se externalizou: celulares, tablets, pcs, post-its, livros, enciclopédias etc. Tudo está ao nosso alcance, basta acessar e teremos a informação que precisamos. Então, dar-se o trabalho de memorizar para quê?
Na antiguidade clássica, a memória era um bem único e precioso que as pessoas cultivavam. Existiam os memorizadores profissionais; aquelas pessoas que declamavam poesias, leis do rei, códigos de conduta; tudo usando unicamente a “cabeça”. Em meados do século IX, a memorização tomou contornos repudiáveis à aprendizagem. Educadores anunciavam a memória para o subúrbio, e apregoavam o entendimento e a centralidade do saber no aluno. Até os dias atuais, na escola, a memória é mal vista. Lembra-se dos professores quando falavam: - “Não decore, entenda!” – tornando a tarefa quase impossível para os inúmeros elementos da tabela periódica, ou lembrar-se das datas mais importantes da Guerra do Paraguai. No entanto, uma escola americana, cujos alunos receberam o carinhoso apelido de “O Décimo Talentoso”, o professor faz questão de ensinar as técnicas de memorização aos alunos, e fazerem os mesmos reterem os acontecimentos necessários à aprendizagem. Seu lema é: “Eu sei que os alunos precisam aprender a pensar, mas eles não irão conseguir pensar a partir do nada. Eles precisam, primeiramente, das informações retidas na memória”. Os alunos formados nessa escola são os melhores dos inúmeros testes que fazem.


Esse é o ponto: não é simplesmente decorar por decorar, através de repetição. Se você pegar uma lista de 20 palavras para memorizar apenas por repetição; ao recitá-las, duvido muito que chegará à sétima palavra. Dentre os objetivos do livro e o mais importante para mim foi descobrir o poder das técnicas de memorização. 
A mais importante e utilitária técnica foi o chamado “Palácio da Memória”. A técnica consiste em visualizar um lugar que lhe seja muito familiar (sua própria casa, por exemplo). Feche os olhos; certamente você se lembra, com todos os detalhes, os cômodos da casa, os objetos despendidos no local etc. A memorização consiste em você projetar uma imagem daquilo que queira lembrar (e uma imagem mais bizarra possível), e coloque em um dos lugares do seu palácio da memória. Irei explicar dando um exemplo.

Eu estava estudando sobre Orçamento Público (um tema novo para mim) para uma prova, e precisava lembrar as classificações que a despesa e a receita podem ter. Resolvi testar a técnica do palácio da memória, e ficou mais ou menos assim: no orçamento público, as despesas podem ser classificadas em institucional, função-programa, por elementos, e econômicas. Já as receitas são classificadas em econômicas, por fontes, e por origem. Abri um palácio da memória que é o departamento no qual estudo (passei quatro anos de graduação e dois de mestrado lá, conheço bem o lugar). Iria começar pelas despesas, então, logo na entrada do departamento, imaginei o símbolo da UFMS, uma “instituição”, que me fazia lembrar “institucional”. Virando a direita, no anfiteatro, imaginei um homem perguntando para quem chegasse: - Qual a sua “função”? Não, não, aqui é palestra do “programa” de mestrado. Ou seja, lembrava da segunda classificação que é função-programa. Para lembrar-me da classificação por elementos, na porta da sala do meu orientador imaginei um policial saindo e gritando: - Esse aqui é o “elemento”, esse aqui é o “elemento”! Pronto, assim eu lembrava da classificação. Finalizando as classificações por despesa, a econômica era assim: havia um porteiro no hall das salas dos professores, e eu perguntava se lá era o curso de Economia. Ele respondia que não, lá era Administração (realmente, o curso de Economia ficava  “para lá”).
Fechava assim as classificações das despesas. Ainda faltava os da receita, ficou mais fácil ainda de lembrar, vejam só: quando o cara anterior me falava que Economia “ficava para lá”, quando eu chegava no local certo, perguntava para outra pessoa se lá era mesmo Economia e ela me confirmava. A primeira classificação ok. A segunda, por fontes, imaginei eu na porta da sala de aula do mestrado, e os professores cobrando aos alunos: -Precisa por “fontes”, precisa por ‘fontes”! E a terceira classificação, por origem, eu chegava no estacionamento do prédio, e de repente se abria na terra a invasão de alienígenas, era a “origem” da Terra.
Tudo isso parece uma grande besteira, mas justifico apoiando-me no livro que não é. Isso que eu fiz são poucas coisas para memorizar, certamente por repetição você conseguiria, mas com o pesar de um futuro muito próximo você já tenha esquecido tudo. Essa é outra vantagem do palácio da memória, a sua retenção dura muito mais tempo.
Faça esse teste também, utilize seus palácios da memória, exercite sua mente. Trabalho, faculdade, e na vida, você irá se beneficiar.

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