Eu tenho total desapreço pelo
o que se classificam como autoajuda. Não acredito em fórmulas mágicas, “os 7
passos para o sucesso”, ou que, se você pensar positivamente aquilo que quer, o
universo “conspirará a seu favor”.
Em um texto em 2009, eu escrevi
sobre uma, dentre as várias falácias da autoajuda: o viés confirmatório. Ou
seja, você (ser humano) sempre buscará fontes que confirmem aquilo que
acredita, mesmo estando errado. Se uma pessoa inspirada escreve ou diz algo
sobre como ter sucesso, muito provavelmente ela esteja sendo vítima dessa
falácia; as pessoas que seguirem seus passos, não terão o sucesso garantido
conforme elas afirmam.
Se autoajuda somente
figurasse entre os livros dedicados às pessoas como indivíduos, “tudo bem”; se
você é ingênuo o suficiente para dar créditos à eles, o problema ainda é só seu.
No entanto, infelizmente essa onda também é muito impregnada ao mundo
corporativo; creio que muitas vezes iludindo os estudantes de como é ser um
administrador, e deixando em segundo plano, as técnicas que ele realmente
precisará com muito trabalhado duro, para tentar alcançar algo.
Um recente post do blog AutoAtrapalha, dedicado a discutir sobre as “armadilhas da autoajuda”, discorreu
sobre o autoajuda nas organizações. Muitas empresas dedicam tempo, dinheiro,
recursos, para trazer um palestrante motivacional, que durante uma hora e meia,
discursa "como a vida é bela e precisa ser vivida"; "como alcançar seus sonhos"; "como amar seus colegas"; e segundo o artigo, nada ou quase nada entendem de
vendas, balanços, marketing, planejamento estratégico ou cadeia de suprimentos, por exemplo.
Ao sair da palestra, é como receber uma injeção de ânimo: tudo é lindo; tudo
vai mudar a partir de agora. No outro dia, parece desaparecer tudo aquilo, e a
vida no trabalho volta a mesma coisa, e o pior, com os problemas ainda
persistindo: vendas caindo, clientes insatisfeitos, fornecedores atrasados,
etc.
No ensino da administração,
as coisas não são muito diferentes. Eu me lembro que logo no primeiro ano da
faculdade, muito se falava sobre os "líderes vencedores", como os funcionários se
sentiam bem trabalhando nessas empresas, como era tudo perfeito. Eu me lembro de
uma história assim: perguntaram para uma funcionária que trabalhava nos
serviços gerais de uma grande e importante organização, sobre o que ela fazia
na empresa, qual a sua contribuição; ela, varrendo o chão, não titubeou ao
declarar a missão da empresa! Eu sei que os professores falaram isso em sala de
aula muito provavelmente para reforçar o conceito que toda a organização, e não
só o alto escalão, devem ter sobre a missão. Por
outro lado, vamos encarar de fato as coisas: a história serve muito mais como “motivação”
de como construir uma organização vencedora, que realmente a discussão profunda
dos aspectos relacionados a administração. E tinha muito mais histórias:
era o vendedor de frutas que conseguiu construir um supermercado; era o camelô que
abriu uma grande rede varejista, etc.
Dois pontos sobre isso: 1) somente
contar boas histórias de sucesso, sem a discussão sobre como a pessoa
conquistou, que técnicas gerenciais utilizou, torna-se um tanto vago; é aquele
efeito: o estudante anima-se com a administração, mas no outro dia volta a sua
velha rotina e dificuldades de sempre; 2) quantos feirantes e camelôs você
conhece que deu certo? Esses são os pontos fora da curva, e estudá-los e
utilizá-los como modelos de administração, não é adequado. Ao contrário, deve-se
estudar a média, o que 99% da turma irão encontrar como dificuldade nas
carreiras nas organizações. Por favor, deixem a autoajuda apenas no campo
individual (se um pedido desse pode ser considerado bom).
Para finalizar, ilustro esse
texto com um emblemático diálogo entre o Chaves e o Quico. Chaves estava saindo
da vila devido a uma dívida, e Quico não hesitou “motivar” o amigo com uma
linda história:
Quico: - Chaves, não fique
triste, você irá conseguir dinheiro. Por que você não começa um negócio como
engraxate? Eu conheço um homem que ficou milionário começando como engraxate!
Chaves: - Sério? Como isso
aconteceu?
Quico: - Bom, esse homem
comprou uma caixa de engraxate, juntou dinheiro, e comprou outra caixa de
engraxate e conseguiu um ajudante! Depois de um tempo, ele comprou mais outra
caixa de engraxate e mais um ajudante. Não muito tempo depois ele comprou mais
uma caixa de engraxate, e contratou um terceiro ajudante! Depois de mais um
tempo ainda, o homem comprou um bilhete de loteria, foi sorteado, e ficou
milionário!
Risadas a parte, perceba que o homem da história trabalhou duro, e é esse trajeto que as histórias
dos professores devem permear, e não o simples fato dele ter sido “engraxate e
hoje um milionário” que apesar de motivacional e um teor de "ele era engraxate e conseguiu vencer, você poderá conseguir muito mais", os aspectos relvantes da administração que devem ser ressaltados.
Sem comentários:
Enviar um comentário