Há algum tempo eu escrevi uma prévia sobre a fragilidade da
prática em administração, muitas vezes, não ser entendida, ensinada e aplicada
por circunstâncias. Em muitos casos, afirmam-se correlações como algo certo, e
induz que essa dinâmica deve ocorrer mediante algum ato oriundo dessa
correlação que a empresa praticar. Por exemplo: há uma correlação aparente em
estabelecer que “empresas de sucesso tiveram CEOs da própria empresa”.
Portanto, a organização estabelece uma política de nomear para esse cargo apenas
recursos humanos de dentro da empresa, e sabe que terá mais chance de sucesso,
porque existe essa correlação. Mas será mesmo? Quando essas empresas não dão certas,
colocam a culpa no caráter imprevisível, intuitivo e aleatório das práticas de
administração. Concordo, em partes, com essas características, mas concordo
também que a correlação não é um instrumento inato para predizer algum
comportamento.
Na verdade, a relação de causa e efeito é a que mais se aproxima
de uma correta previsão, essa precisa ser encarada como a boa ciência em
administração. Veremos a seguir como se constrói essa “boa ciência”; o objetivo
também é que esse texto se torne um guia para vocês leitores tentarem
diferenciar um “bom” e “ruim” livro de administração.
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Não caia no precipício da administração! |
As teorias sólidas possuem um caráter fundamental entre as
mesmas: tem o poder de prever um fenômeno. Veja por exemplo a Lei da Gravidade:
prevemos que, se dermos um passo à beira do precipício, a queda é inevitável. O
processo de construção das mesmas inicia-se com a descrição de um fato que se
pretende compreender. Por exemplo: um fenômeno de interesse em administração
são as iniciativas de gestores em busca do sucesso e os resultados de suas
ações. O problema da ciência em administração começa aí; muitos pesquisadores
observam alguns casos de sucesso, e afirmam em seguida, que essa é uma prática
viável para as demais empresas (a chamada falácia da generalidade). Qual o
problema disso?
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Mecânica dos fluídos que tornou o voo possível |
O problema reside no segundo processo da construção da
ciência: categorizar os fenômenos, ou seja, classificá-los mediante suas
circunstâncias; esse é a fase mais importante do processo. Veja por que:
antigamente os aviadores acreditavam que só poderiam voar se tivesses asas,
devido alta correlação que encontraram em seres que voam e ter asas. Mas, um
voo só foi possível quando entenderam os mecanismos, ou seja, descobriram o que
realmente causa um voo possível. Se ficassem somente na correlação, voar não
seria viável. O que quero dizer é: apesar de alta correlação de “empresas de
sucesso ter um CEO de dentro da empresa”, isso não determina, de fato, o
sucesso da mesma. Deve-se haver um sistemático entendimento para abordar a
causa e seu respectivo efeito de uma determinada ação sobre um fenômeno. Em
outras palavras: quais circunstâncias um CEO de dentro ou de fora da empresa, é
favorável?
E por fim estabelece uma teoria que dê conta da
previsibilidade do fenômeno. Uma boa teoria, além de estabelecer quais
circunstâncias determinadas ações serão mais prováveis de dar certo, também
devem responder quando as mesmas não irão ser bem sucedidas. Por isso os
pesquisadores em gestão estão inclinando suas pesquisas a responderem quando
determinada prática consolidada na administração, não surtirá o efeito
desejável. Por exemplo: sabe-se da importância da reengenharia como processo de
inovar a sua empresa, mas, e quando essa prática não atingir os objetivos
ancorados em sua teoria? Portanto, estudam-se os “outliers” da amostra (às vezes, tão rejeitados pelos
pesquisadores). Outra questão: por que eu acho que o livro de Jim Collins não é
definido como uma boa ciência de gestão? Porque várias das empresas
consideradas como “excelentes” pelo autor, e passíveis de seguidores, hoje
morreram, ou não são tão “excelentes” assim. Fica entendido que as causas que
levaram ao sucesso dessas empresas, não eram realmente causas, e sim
correlações.
Mediante esse pequeno esboço do funcionamento da ciência,
espero que tanto eu como você aplique nas leituras e aulas sobre administração;
e que não caiamos na falácia da generalidade. Se você ler ou ouvir, por
exemplo, que "hoje em dia a terceirização é a melhar prática administrativa para
manter-se competitivo", não hesite em perguntar ou questionar: mas em qual circunstância a
empresa precisa se encontrar para que a terceirização seja realmente eficaz?
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