Páginas

12 de novembro de 2009

O método científico


O meu grande sonho era ser ter um curso de Administração de Empresas como a engenharia ou medicina, um curso que explorasse o método científico nas suas abordagens. Eu sei que conhecimentos baseados em evidências, trabalhados para circunstâncias diferentes, já existe em administração, ainda é prematuro, pouco conhecido, pouco difundido, mas é o melhor que possuimos em termos de ensino da administração.
Hoje eu quero escrever, já que tocamos no assunto, sobre o método científico, o que realmente é isso, como funciona, e a pergunta de um milhão: será que cabe aos assuntos da gestão esse método? Primeiramente vou tentar explicar o mesmo, baseado no ótimo site de orientação e divulgação da ciência para leigos, estou falando do site:  Projeto Ockham.

Imaginem um estádio de futebol, imagem uma partida rolando ali. Imagem agora que uma cavana de alienígenas recém embarcados na Terra estejam assistindo a partida. Sem nunca terem visto aquilo e passado alguns lances, eles começam a criar hipóteses sobre como funciona aquele jogo, qual ou quais são as regras dele: "será que o objetivo é enviar a bola o mais distante possível?' (eles pensam depois que o goleiro cobra um tiro de meta), ou "será que eles precisam matar um humanóide?" (quando vêem um jogador aplicando uma tesouro no outro). É bem capaz que, depois de algum tempo observando a partida e depois de vários palpites errados, nossos amigos ETs consigam decifrar grande parte da regra do nosso futebol.
Exemplificando, somos como os extraterrestres na nossa natureza, tentando entender suas "regras".
Porém, a ilustração não é toda correta, os alienígenas ficavam passivamente vendo o desenrolar do jogo, e com isso formulavam hipóteses que só seriam provadas esperando que elas se repetissem. Nós porém, não somos meros espectadores, podemos participar e interagir com a natureza aplicando experimentos que verifiquem nossos hipóteses.

Partindo do pressuposto que existem fortes evidências de uma ordem universal e imutável na natureza, torna-se possível prever o comportamento da mesma. Isso é o que chamam de "princípio da uniformidade da natureza".
Ao observar que todo homem, cedo ou tarde, morrem, pode-se estabelecer uma regra geral: "todo ser humano é mortal", essa forma de raciocínio lógico que extrai uma verdade geral a partir de uma observaçao é denomina de: indução. A partir desta regra geral, podemos concluir que: "se Fulano de tal é humano, e já que todos os serem humanos são mortais, então o Fulano de tal é mortal". Com isso você deduz de uma regra geral (de uma indução), uma situação mais específica. (isso é chamado de dedução).
Porém verificou-se um problema, veja o exemplo a seguir: "imagine um peru que é alimentado todos os dias do ano às 09h00 da manhã, faça chuva, faça sol, em finais de semana e feriados. No início ele é pouco desconfiado, mas depois, percebendo que esse evento se repete inúmeras vezes, ele conclui por indução que: "sou sempre alimentado às 09h00 da manhã" e fica tanquilo. No entanto chega o Natal, e para o peru indutivista, essa regra não é mais verdadeira..."
Isso faz termos um problema: se aparece uma regra geral, fruto das inúmeras observações, quantas observações serão necessárias para justificar a regra? Ou em outras palavras, quantas vezes o peru precisaria ser alimentado para que acreditasse com certeza que não seria a fatídica mesa do jantar? Cem, cem mil, um milhão de vezes?
Esse problema foi contornado com o conceito de falsificabilidade, segundo o qual uma hipótese só pode ser considerada científica se for falsificável (lembrem-se do post anterior! Sobre o viés da confirmação, esse conceito estava lá!) ou seja, se por meio de algum experimento real ou imaginário for possível falsificar uma hipótese.
Isso nos leva a uma mudança de atitude. Em vez de buscar eventos que confirme uma teoria, busca-se observações que a falsifiquem. Quanto mais uma teoria passa por esse crivo, maior a sua veracidade. Portanto não há teorias comprovadas, apenas teorias que ainda não foram derrubadas. Diferentemente do que se pensa, a ciência busca que determinada teoria seja derrubada (trabalha-se constantemente em cima disso), busca-se provar sua falsificabilidade, pois assim a ciência progride e a humanidade também.

Então tudo começa com a observação da natureza, uma vez feito isso, pelo método indutivo se formulam hipóteses que explicam um determinado evento.
Depois disso, as hipóteses precisam ser provadas, e mais do que isso, precisam prever novos fenômenos. Utiliza-se portanto experimentos, na maioria das vezes controlados em uma ambiente que simule uma determinada situação, para quantificar os resultados. Independente dos resultados, esse experimento só será válido se for reproduzido por outras pessoas, nas mesmas condições. Se a hipótese se confirma uma vez, ela pode estar certa; se ela se confirmar várias vezes, provavelmente ela está correta. Se uma hipótese não se confirma ela deve estar errada, e portanto reformulada para ser testada novamente.
E quando diversas hipóteses confirma o mesmo fenômeno? Nesse caso a ciência prefere adotar a hipótese mais simples, aquela que se usa o menor número de suposições possíveis ou que se introduzam o menor número de entidades novas na ciência. Chamam esse método de Navalha de Ockham.
Abaixo uma figura que resume todo o post:

E nós administradores? Todo esse método é frequente enxergar com cientistas descabelados e de óculos, todo de branco nos seus laboratórios. Agora imagina você que um figurão de terno e gravata, executivo, ou quem sabe aquele pequeno empreendedor, utilize desse método para suas questões empresariais, difícil de acreditar né? Mas as leis de marketing e estratégia empresarial por exemplo, aplicadas em um determinado tipo de empresa, produzem efeitos. Por que não é medido esses efeitos, estudados, aplicados o conceitos de falsificabilidade, tornando-se teorias sustentáveis, e ensinados nos cursos de administração? Ao contrário, produzem-se literatura que para o mesmo tema, é afirmado conceitos diferentes. Senão, veja como sofremos: o livro "Destruição criativa" de R. Foster e S. Kaplan, e "Lucro a partir do core business: estratégias restáveis de crescimento", de L. Allen e C. Zook, são dois textos de grande prestígio e tratam do mesmo problema: o desafio de manter a empresa crescendo lucrativamente, mas suas recomendações são simplesmente opostas! Um recomenda a destrição criativa e o outro diz que você deve se manter fiel àquilo que você já faz (!!!)
Quem escolheremos? Depois não é para ter aflição...

****

Haviam mais coisa sobre esse assunto para ser explicadas, mas acredito que o mais importante esteja aí. Qualquer dúvida visitem o site, tem muita coisa boa lá.

1 comentário:

  1. Certamente este assunto é de elevada importancia, é também uma indagação que passa pelo pensamento da maioria dos academicos de administração. Entramos na universidade com uma expectativa, e uando começamos a nos aprofundar no estudo da gestão percebemos que na hora do ''expetaculo'' o que irá contar realmente é seu conhecimento do cenário, sua experiencia e intuição. Então pra que ser administrador? acho uma pergunta muito complexa, mas me arrisco a dizer que neste ambiente marcado por empreendedores, profissionais capacitados, logico que munidos de experiencia tanto de vida como do ambiente e intuição, irão ser melhores sucedidos.

    ResponderEliminar